Imagina

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Imagina, é de madrugada numa pequena cidade no sopé de uma montanha. E tu estás, como quase toda a gente, a dormir. Não sabes, mas a tua casa deslizou ligeiramente e tu acordaste por dois segundos. Sem querer ficas entre o sono e o embalo da terra. Misturas as agitações graves do mundo com o teu silêncio. Decides levantar-te, há luz do dia, há sombras, vais à janela que manténs aberta nas noites de verão e algumas pessoas estão à janela como tu. As casas em frente à tua começaram a andar lentamente. Eles vêem-te partir de igual forma mas no sentido oposto. A paisagem muda. Do outro lado da rua, passam agora as margens secas de um rio, cheias de vegetação rasteira, ervas e arbustos daqueles que existem na foz da Ribeira de Odeceixe.
Imaginas tu que o chão se separou no lado deles, na valeta da rua de terra batida, e que a placa onde eles estão está a ser arrastada, e que partiu, sem som. Tens a sensação de que o ar está quente. Provavelmente é mais tarde do que julgas, ou talvez seja um dia mais quente. A luz varia gradualmente e vai ficando de noite outra vez mas não fica mais fresco.
Afinal o que existe ao lado da cidade não é um monte qualquer, é um vulcão. Na tua direcção vem um rio de cinzas e lava. Há uma mulher que passa a correr, de peito cheio com a respiração contida, apenas expira tensamente de quatro em quatro passos, quando os pés batem no chão com mais força. Ela entra numa casa para a qual alguém, provavelmente o filho, lhe abriu a porta. Não há, em momento algum, pânico.
Ainda estás a meio a dormir. Poucos minutos depois a realidade invade-te. Então uma massa de coisas em pó finalmente chega à tua rua e és envolvido pelas cinzas. Nesse momento decides voltar para a tua cama sem fechar a janela.

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