A Medíocre Rebeldia da Conservação



Há uma coisa que estes geniozinhos de direita, dentro de toda a sua graça de português-beto mal falado, ainda não atingem e que provavelmente nunca vão conseguir compreender dentro nas suas visões políticas de autoritarismo. Aliás há duas.

1) A primeira é que uma união económica, dentro deste sistema monetário, não elimina apenas a capacidade de decisão sobre as políticas monetárias, mas limita perigosamente todo o espectro de acção do poder executivo e legislativo. Mais ainda quando se sabe que o bem de uma grande empresa não significa o bem-comum. Esta é mais ou menos fácil de perceber mas mesmo assim há quem não tenha coragem para quebrar este sistema. Um porque não é simples, dois porque significa mudar algo na raiz. E como o nome indica, mudar radicalmente não é uma arte pela qual os conservadores tenham grande apreço. Eles gostam de dar nas vistas nos jantares ridicularizando a diferença com frases bem dispostas (a sério, são capazes de fazer rir um tronco),  mas não apresentam ideias originais com valor.
No fundo no fundo são seres humanos como todos os outros, mas no dia a dia não conseguem traduzir esse potencial para a pele e assim se ficam: reaccionários de bom trato.

2) A segunda coisa que lhes escapa é a ideia de comportamento social complexo e a ideia de realidade emergente. Este não é tão simples, é um conceito que vem da física, mas é inteligível, acompanhem-me aqui: a Emergência é um processo de formação de padrões complexos a partir de uma multiplicidade de interacções simples. As estruturas emergentes são padrões que não são criados por um único evento ou regras. Não existe nada que comande um sistema para que ele forme um padrão, ao invés disso as interacções de cada parte com o ambiente externo geram um processo complexo que leva à ordem. As estruturas emergentes são mais que a soma das partes, pois a ordem emergente não surge apenas porque as várias partes são coexistentes; a interacção destas partes é central.
Nada de novo, mas impossível de arrumar no cérebro de um conservador.
O conceito de Emergência é normalmente associado às teorias dos Sistemas Complexos. As propriedades emergentes de um sistema complexo decorrem em grande parte da relação NÃO-LINEAR entre as partes.
A teoria dos sistemas complexos é essencial à política contemporânea mas não era essencial para compreender o comportamento de um lar português em 1970, de um colégio cristão em 1975, de uma universidade católica em 1980, ou de uma classe política profissional a viver a adolescência da sua primeira democracia em 1995. E foi precisamente, por não ser preciso perceber que a mudança e a ordem não dependem de uma opinião central, de um estado ditatorial, que nesse período um tal de Paulo Portas conseguiu subir na vida pela política, com esta postura de quasi-fascista com laivos, de caridade e alguma preocupação social, que até acredito serem sinceros.

Portanto, um gajo como este a subir da forma que sobe pode assustar, é mais que compreensível, mas como ele não percebeu que está a assinar contratos que lhe retiram poder político (empréstimos) e como não percebeu que os elementos sociais são mais que a soma das partes, tudo o que ele possa fazer dentro deste cenário, mesmo que chegue a primeiro primeiro-ministro, está condenado à partida.

É triste ver como pessoas inteligentes se podem tornar tão cegas e ainda mais triste entender como tantos portugueses (653.987 votos)
apreciam a eloquência desta pequenez de espírito.



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