O que acabará por fazer a diferença.
O que acabará por fazer toda a melhor diferença entre uma ditadura e uma sociedade saudável é a coragem e capacidade de fazer com que as construções humanas deixem de condenar os cidadãos à miséria. Tratar insolentemente os cidadãos para quem trabalha como se fossem um grande grupo de bandidos é um comportamento medíocre próprio do despotismo.
Por outras palavras, é fácil dizer, "não há dinheiro, não há direitos", mas aí não reside qualquer arte. Não se pode subir a um parlamento para depois tratar os assuntos políticos mais honrados e nobres com a ligeireza com que uma mãe diz a um filho que não há dinheiro para comprar mais brinquedos e doçarias. Estamos a falar de direitos humanos, de comida na mesa, acesso universal à educação, saúde pública, segurança... A nobreza e beleza da política é a de ser o palco onde estes assuntos se tratam e debatem em público. Seja na rua ou no parlamento, em casa ou no banco central, compete a um bom político pelo menos tentar até ao fim do mandato fazer o melhor por isto. Não lhe compete refugiar-se no argumento de que nada pode fazer, porque é claro que pode. Claro que "vale a pena escrever (e proteger) direitos numa constituição mesmo quando não há dinheiro para os cumprir". Tanto o sistema monetário como o código de leis são ideias, criações humanas, não são milagres nem dogmas.