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Certa noite, enquanto saía de casa com dois amigos não conseguia distinguir o fim da rua e, não muito longe, um candeeiro público embaciava o nevoeiro cerrado. Não dava para perceber se a rua tinha vinte metros ou duzentos. Decidi sair da cidade.

No dia em que enviei o aviso de 60 dias aos meus colegas do Lófte fiquei a saber que o grupo Soares da Costa ia instalar quarenta clínicas de saúde privadas em centros comerciais, investindo muito pouco e aproveitando as janelas abertas pelo governo que decidia cortar gastos com a saúde para poder continuar a fazer parte de um sistema monetário condenado. Enquanto a Europa continuava a trotear uma política de direita que embaraça qualquer espírito saudável deste continente, o meu país acelerava pelo ultraliberalismo. Nada disto mudou até hoje.

Agora, passado alguns meses, julgo que o nevoeiro foi a maneira que o meu coração encontrou para me convencer daquilo que a minha razão m'andava tentar dizer. O espírito raramente está preparado para o que o coração recusa e o corpo não se põe a andar sozinho.
Desde então tudo correu de acordo com o agendado, tirando o atraso de um mês. No fim Fevereiro saí do Porto sem regresso planeado. Tinham passado quase 14 anos desde que havia chegado. Entretanto o anonimato que o Porto me tinha dado nos primeiros tempos tinha-se esgotado. A cidade não se tinha reciclado tão depressa como eu tinha previsto.
Concluí que em certos ambientes, as pessoas repetem opiniões como se fossem factos para que, todos os dias, possam embrutecer um bocadinho mais em paz. Este fenómeno cria uma massa densa que enquista as pequenas mudanças. O Porto é quase sempre granítico mas, mais raramente, o Porto também se funde e evapora em si mesmo pois que, felizmente, a mudança faz parte da natureza humana. Algumas pessoas deixam-se surpreender pela diferença, outras não. Acho que vai dependo da estupidez de cada um.
Foi o fascínio por um estado feito de generosidade que me fez ficar tanto tempo. Houve tempos em que respondia com gravidade ao lado teimoso e céptico, mas hoje a condescendência dos conservadores sobre os que se distanciam de uma norma encontra em mim reciprocidade. Uma pessoa que precise de desdenhar a novidade para se manter jovem, para mim, é tão ingénua e doce como um grupo de putos que se orgulhe de ter inventado o novo.

Apesar de todo o meu amor pelo Porto é hoje óbvio que já tentava viver e trabalhar no Porto há demasiado tempo. Quase me parece ridículo hoje mas fui para lá com 18 anos para tentar fazer história, para colocar o Porto no mapa cultural da Europa com movimentos de design de comunicação de vanguarda e música electrónica, a escrever para agitar as coisas à volta e esperava poder viver disso. Entretanto, tão rápido fundei projectos colectivos como fiquei sozinho, vez após vez. Outros valores e amores se levantaram e a vida foi sempre ficando mais ou menos como estava, até deixar de poder esperar.
Agora é tão somente triste ver, dia após dia, os mesmo DJs, semana após semana, as mesmas bandas, mês após mês, as mesmas editoras, ano após ano, milhões de fundos a serem distribuídos pelos mesmos tipos, os mesmo estúdios, as mesmas editoras, para se publicitarem eventos medíocres cobardemente orientados para projectos temporários, ou celebrações megalómanas. Nada disto é estruturante. Chega a ser doloroso ver 40000 estudantes por ano desperdiçados... Todas a mentes jovens que chegam de todos os lados (de Portugal e do mundo) acabam por ter de sair. Mas é assim que é e se quem lá está não faz nada para mudar isso, não vou ser eu que vou conseguir. A minha mágoa não ficou grande o suficiente para me recusar a voltar. Conformei-me, sem mim, é só menos um. Não quero voltar tão cedo. Não preciso pedir desculpas nem que me as peçam. Fiz coisas e obtive reconhecimento, mas uma pessoa não vive de reconhecimento cultural.
O Porto também me deu das minhas maiores amizades, um ambiente de escola extraordinário e raros momentos de honestidade que outros locais, como Lisboa ou Den Bosch, não deram.
Mas olhando para a minha vida com mais clareza, seria apenas loucura tentar "fazer o mesmo, e esperar resultados diferentes", e francamente não quero desistir de mim nem dos meus sonhos, não enquanto tiver força.

Fez-se o tempo para viver e trabalhar noutros sítios. Decidi começar por Londres. Juntam-se 2 meses de potenciais gastos, enfia-se um telemóvel no bolso, check up geral aos dentes, empacotam-se quinze dias de roupa, um mac e um controlador midi e um gajo vai ver o que há ao fundo doutras ruas. Há uma boa possibilidade de ter de voltar ao Porto em breve, a casa, mas também há a possibilidade de não voltar. Lá regressarei de qualquer das formas.
De longe, queria agradecer a todas as pessoas que fizeram a Concorrência, a Nova Emoção, VEC, Ana Campos, a Ástato, o Bravo, a Dessau e em especial às que estiveram comigo num sítio que me fez ficar no Porto nos últimos três anos. O Lófte. Desde de 2009 que 40 pessoas conseguiram erguer um espaço singular que pode ser frio no Inverno e poeirento no Verão, mas foi o primeiro estúdio de coworking do Porto e foi feito por nós, com 5000 euros e 8 meses de construção civil. Hoje é uma estrutura orgânica aberta e, agora, estável e sustentável, com procedimentos definidos, onde mais de uma dezena de pessoas trabalham juntas, partilhando responsabilidades e conhecimento. Se a Concorrência, a Nova Emoção, os VEC, os Ana Campos, a Ástato, o estúdio Bravo, e a Dessau me prepararam para ajudar a construir o Lófte, o Lófte deu-me a perceber o que de realmente importante há num projecto colectivo: debate, método, espontaneidade, respeito, motivação e trabalho.
A todas as pessoas que passaram verdadeiramente nalgum destes projectos: obrigado pelo prazer simples, e no entanto precioso, de me ter cruzado com cada um de vós. Foi isso que trouxe do Porto e é isso que acarinharei. Esta coisa pequena de ter tido a sorte de vos conhecer só porque tinha de vos conhecer, sem interesses escondidos e com um único objectivo comum: sobreviver a toda a merda enquanto se trabalha no que por se tem paixão. Têm todos o meu profundo respeito e sincera admiração. Tenho a certeza que nos encontraremos, mais cedo ou mais tarde.
Há quatro dias cheguei a Londres, uma cidade onde a malta se empurra com força para entrar no metro e a água é tão calcária que faz cair o cabelo e enrugar a cara. Mas é uma grande cidade. Real e vigiada, violada e sofisticada. Não consigo dizer com toda a certeza que tive a sorte de vir parar ao epicentro do Cool, porque ser cool não é viver em Dalston, ter calças justas, comer num "great little place" e gostar de Beyoncé, King Krule, UK Garage e Koreless, de Italo Disco e de Objekt. Mas posso dizer que vim parar a um sítio altamente porque, sim, é uma cidade onde a diferença encontra lugar e tempo. O que me mais me apraz aqui é a cordialidade. É a gente que pede "com licença" para passar, pede desculpa quando choca, caminha atentamente e liga aos outros peões mesmo quando tem pressa, seja um preto de ar fodido de kispo e gorro que se desfaz em simpatia quando lhe perguntas onde deves virar, um hipster que que passa de desconfiado a inspirado e confiante e te diz com certeza que não estás de todo perdido, estás só a ir no sentido oposto, ou um indiano rechonchudo que tem montada uma loja de rua onde opera um negócio de alta tecnologia, onde se abrem e quitam telemóveis, e que empina o nariz quando está a prestar informações com um sotaque britânico. Gosto de uma cidade em que a gente do povo não grita na rua de manhã, cospe para o chão à hora de almoço, não insulta os filhos na esplanada à tarde e não se esconde em casa de noite. Anima-me a simpatia e esta certa distância. Sei até que me posso vir a irritar com as máquinas me falam em todo o lado (elevadores, autocarros, caixas de self-checkout, comboio...) mas sinceramente dá-me jeito porque evito ter de perguntar tudo.

O que se sente no ar é caril, leveza e "descomprometimento", mas confesso que acho que aqui as pessoas, regra geral, são tão "desinformadas" sobre o que se está a passar como em qualquer outro lado. Não sei, ainda não estou certo de nada. Talvez tudo isto me pareça diferente daqui a uns tempos. Sei que vou ter de arranjar trabalho, que vou aceitar qualquer treta enquanto não conseguir nada de jeito e que me pagariam 1000 libras para tirar cafés e que no Porto por mais que tenha pedido nunca me deixaram tirar cafés. Agora vou ter de mentir sobre a minha experiência profissional.

Espero que este post vos encontre bem.
Um abraço




I met this guy 
and he looked like might have been a hat check clerk at an ice rink. 
which, in fact, he turned out to be. 
and I said: oh boy. right again. 
let x=x. 
you know, it could be you. 
it's a sky-blue sky. 
satellites are out tonight. 
let x=x. 
you know, I could write a book. 
and this book would be think enough to stun an ox. 
cause I can see the future and it's a place - about 70 miles east of here where it's lighter. 
linger on over here. got the time? 
let x=x. 

I got this postcard. and it read, it said: dear amigo - dear partner. listen, uh - I just want to say thanks. so...thanks 
thanks for all the presents. 
thanks for introducing me to the chief. 
thanks for putting on the feedbag. 
thanks for going all out. 
thanks for showing me your swiss army knife. 
and uh - thanks for letting me autograph your cast.  hug and kisses. xxxxoooo. 

oh yeah, 
p.s. I - feel - feel like - I am - in a burning building - and I gotta go.

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