Em caso de dúvida, deixem-me o coração.

Dois e-mails a propósito das idiotices dos políticos.

O meu amigo (escrito num telemóvel à pressa):

Boas!

Em relacao ao ministro japonês, o senhor e apenas idiota e nao sabe falar! O que ele disse pode ser visto de tres maneiras:

A maneira popularucha: ai meu deus ele misturou dinheiro com saúde ai ai ai!! E agora? Ai ai ai

A maneira comedida: o senhor e parvo, nem sequer falou pelo governo e se as pessoas querem morrer eu acho que as devem ajudar a isso. 100 % a favor da eutanasia. So nao as devem obrigar.. E isso ele tambem nao disse. Limitou-se a ser japones e fazer uma coisa que é culturalmente muito forte la, que e apelar para a honra individual ao servico de uma ideia de comunidade. Claro que o fez de uma maneira parva e por um motivo idiota porque o istema nacional de saude nao pode estar dependente dos suicidios das pessoas da 3a idade!!

A maneira racional: mas alguma vez na vida a saude pode ser um bem universal sem pensar nos custos dela? Quem esteja fora do meio talvez nao saiba, mas ha conselhos de etica em todos os hospitais que tem de tomar decisoes parecidas. So tenho 100 milhoes nao posso salvar todos e ter todos os medicamentos, o que faco? Escolho que doencas? Valera a pena gastar metade para prolongar a vida 2 meses a 1000 pessoas e correr riscos de nao ajudar as outras? Tratar a doenca sempre com a alternativa mais barata mesmo que um pc menos eficaz? Ou otratamento mais eficaz mesmo que carissimo? Quem pode decidir? Por exemplo tens a medicacao para alzheimer que e carissima e so adia a coisa uns dois ou tres meses. Isto levanta questoes importantes, e obvio que se for para mim eu vou querer que o estado pague, mas fara sentido? A comunidade gastar tanto dinheiro com tao pouco retorno? Eu nao tenho opiniao nem quero ter!!

Tudo isto e muitas mais questoes sao postas diariamente e nao sao um sinal dos tempos, sao o que sempre foram. A diferenca foi que tiveste um idiota que tirou as questoes do gabinete e as transformou numa ideia extremada e mal explicada. Um idiota portanto.. Mas o sr ja e conhecido por fazer afirmacoes dessas! Vai acabar a frente de um partido de direita agressivo e sem votos!! Pelo menos assim o espero!

Enfim nao facas da politica demagogica dos outros um motivo para a tua luta, pois nem os proprios o fazem!!

Ah se o texto e do sr daniel oliveira esta tudo dito!! alarmista demagogico e incapaz de sair da sua posicao para encontrar motivos para s dos outros. Bom para entreter, mau (sentido racional do termo) no seu fundo.
Dizer ainda que nunca o sr taro aso pode ser considerado neo liberal por aquilo que disse. Ele apenas apelou a decisao do individuo pondo-lhe um peso na sua honra (ridiculo eu sei) mas nunca deu a entender que a politica que defende seja neo liberal, o homem quer poupar dinheiro ao estado, mas nao quer a saude privada nem a depender do capital! Onde estao essa afirmacoes?ele ate pode se-lo, mas isso ele nao disse.. Isso e aproveitar um idiota para fazer propaganda!!! Daniel rules!!

Em relacao ao teu livro, este mes tem sido complicado, mas mal tenha lido eu aviso-te e depois falamos

Grande abraco


Eu:

Hei!
O Daniel Oliveira exagera por vezes, mas sabe que este modelo é injusto e tem carregado na questão precisamente para alertar para o que nos é proposto como inevitável.

Se fosse só o ministro Japonês até se percebia que não valia a pena alarmar, mas é uma ideologia que atravessa quase todos os Estados desenvolvidos. E é uma ideologia pouco brava e arrogante, na medida em que não tem visão nem coragem para pensar soluções reais e assume uma postura insolente, não só no discurso público como na tomada de decisões.
Ainda há bem pouco tempo o nosso ministro da economia disse que a política ambiental industrial não podia estar dependente do ambiente. Pois, com este modelo monetário só está dependente de uma coisa: do dinheiro. Isto é grave porque se no ambiente o indivíduo pode não sentir a coisa logo, já na saúde, habitação, justiça, alimentação, quando não houver dinheiro para tudo, quero ver como vai ser. Os argumentos vão a esgotar-se tão rápido como os fundos. A política de saúde não pode estar dependente da saúde? Mas que ridículo conceito de política é este?

O meu livro reforma o sistema monetário de modo a permitir que uma parte desta questões se simplifique facilitando o regresso de algo ambicionado e conseguido por muito pouco tempo com este sistema monetário: a solidariedade social.

Claro que não se pode pensar na saúde sem pensar nos custos dela mas pode ser criado um modelo que permita outra solução que não o corte no acesso ao cumprimento dos direitos humanos, usando para isso a legislação laboral e monetária.

Essas questões de ética de que falas existem há muito tempo, mas nem sempre estão relacionadas com dinheiro. Como naquele exemplo em que falámos no Fundão, em que um médico recebe 5 doentes e tem de optar entre salvar 1 com órgãos que dão para salvar os outros todos, ou salvar os outros e deixar morrer o que tem mais hipóteses de sobreviver. São questões que nos acompanham há muitos anos que e se apresentam como muito dolorosas quando se trata de assuntos de vida, amor e saúde... Em pequenas atitudes, todos os dias solucionamos alguns destes dilemas sem conseguirmos solucionar outros... O ultilitarismo de Bentham é a a doutrina que mais se espalhou pelo mundo durante estes anos de liberalismo vs socialismo, mas já Kant defendia uma moral menos consequencialista e hipotética e mais categórica e com a sua razão também. Se para Bentham se atirava o gordo para a frente do carro porque a consequência do gesto impedia que morressem 4, para Kant, o acto de cometer homicídio é categoricamente errado havia que deixar morrer os 4 na pista. Portanto, há deontologia para além dos custos! Mesmo sem os velhos cifrões envolvidos estamos sempre com facas com dois gumes e às vezes sem cabo. Não sendo grande filósofo optei por fazer o que a minha mãe me disse, em caso de dúvida esquece um pouco a razão, acredita que vai correr tudo bem e segue o teu coração. A verdade é que em contextos novos e em que a sobrevivência é posta em causa, a moral tende a desaparecer.

Assim vou mais longe, só pode continuar a existir deontologia e política dignas desses nomes, se sobrepuserem os direitos humanos acima dos custos. Se os produtores de dinheiro mantiverem os mesmos direitos que lhes têm sido concedidos, estamos todos fodidos. Incluindo eles que correm o sério risco de cairem nas mãos de uma população rancorosa e sem dignidade.
É por isso que não podemos encarar o dinheiro como um obstáculo à solidariedade e ao cumprimento dos direitos humanas, mas como uma ferramenta para decidir sobre questões práticas. E o dinheiro, como ideia que é, como conceito e ferramenta intelectual tem esse poder.

Quando leres o livro apita.

Um grande abraço


PS: Em caso de dúvida, deixem-me o coração.

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