Selecção veloz


Todo eu sou terra e o cheiro a ela.

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As pessoas a cairem por elas. Sentidas.

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Désolé. Pouvez-vous parler un peu plus fort s'il vous plaît.

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Os problemas de metereologia resolvem-se com beijinhos.

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Poema do gato irritado

RRRIAAAU!!! Só me apetece fazer milhares de feridas, arranhões e golpes rápidos nesses literatos.
Zdramgrás! Zás! Esgadanhás!

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não é agora,
nem talvez seja depois
mas à frente dos bois
é levar a carroça
para fora do caminho
e esperar que comigo
a queira empurrar
algum amigo

não é agora
não é só de mim
conheço alguns afim
é sempre assim

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Desde que deixei de fazer disto
uma espécie de diário,
como se dissesse tudo o que me vinha à cabeça,
algumas pessoas voltaram
a mostrar os olhos.
Era de esperar que eu,
que gostava tanto de só dar as coisas,
encontrasse agora mais vezes
mais graça noutras coisas
mais familiares.
E encontro.

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Às vezes cruzamo-nos com situações que compreendemos e que nos compreendem. Um pouco como ler diagonalmente um poema e perceber tudo. Olhamos de viés zás. Percebo-te, é mesmo isso. Outras vezes demoramo-nos mais até partilharmos a mesma configuração. Tal como ler um poema com muitas camadas, de maneiras diferentes, até abarcarmos os significados escondidos. Depois, há as outras coisas. Entre as pessoas vai uma distância tão curta mas tão curta que não existe no sentir, mas que pode ser enorme no entendimento.

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Pode ser tarde. Não te importes.

Não vamos atrasados. Vamos apenas devagar porque estas coisas demoram. Não é tarde para quase nada. Nem um pouco. Só é tarde para amar. É sempre tarde para amar pois... Isso é coisa do presente e não fica nunca para amanhã... É coisa de eternidade, já se sabe. E a eternidade não tem nada que ver com o futuro. Se pertencesse a algum tempo era ao presente. Ao agora que só demora um pequenésimo de segundo. Repara: este segundo agora (já passou) e este (passou) e este também (foi). Já passou e continua aqui. Por isso meu amor, não importa muito que seja tarde. É sempre um pouco tarde para amar. E é também por isso que importa amar.

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Terça-feira

Todas as semanas, transformo a minha casa num caixote do lixo de 3 assoalhadas frias.
Deixo roupa, copos de água meio vazios e pratos usados espalhados um pouco por todo o lado.
Tenho 5 cervejas que não bebo nem quero beber em dois sacos de plástico trazidos de um pequeno almoço, e um maço de tabaco. 3 latas de Red Bull que me metem um certo nojo no frigorífico.
A minha mãe mandou-me sopa, ovos e uma uvas que nasceram na latada que segura as paredes de xisto da casa do meu avô. Estes, estão cuidadosamente dispostos ao lado dos destroços semana. São estes os que me alimentam e me reconstroem com a preciosa ajuda dona Fátima que me devolve o normal por 5 euros à hora todas as terças-feiras.

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Normalmente no Porto as pessoas têm medo que as casas apodreçam. Mas eu tenho uma casa de boa construção, bom chão, bom telhado e boas paredes. No Inverno passado cheguei mesmo a reforçar o isolamento das portas e janelas. Durante a minha permanência aqui, já houve inundações e infiltrações mas todas foram resolvidas em bom tempo. Agora tenho outro problema. A falta de humidade. Estive fora durante um mês e a casa desidratou. Acho até, que ficou mais espaçosa porque a estrutura encolheu de tão seca.
Ontem antemanhã, abri durante várias horas, todas as janelas e portas das varandas para que o ar de lá de fora entrasse, não para trazer, mas para levar a olência de terra sem água. Parece impossível mas o quarto e a sala cheiram tanto ou mais que a rua, que durante estas madrugadas recebeu com rudeza as primeiras chuvas. A diferença é que cá dentro o aroma é estupidamente enxuto. E não é aquele seco empoeirado. É aridez limpa.
Já ando nesta luta há vários dias, desde que o céu ficou cinzento. Mas é como se casa estivesse ressequida e assim quisesse ficar. Murcha. Eu não vou deixar. Serei pouco amável com as vontades minha casa. Se não fosse a descortesia com que a vou abrindo aos pingos, ou a aparente insensibilidade com que a deixo sentir a severidade do tempo mesmo que isso me possa deixar doente, a esta altura a casa estaria sedenta e murcha. Às vezes são entradas leves quase nuvem, outras vezes são gotas pesadas e soltas, que se aventam cá para dentro, de rajada em rajada. Há bocado, a determinada altura, uma ventania fértil derrubou uma das duas plantas que me restam cá em casa. Levantei-a, e varri os bagos de terra, para um canto aqui no estúdio. Ainda agora olhei para eles. Passei a esfregona húmida sem enxugar. Vai ser um combate longo e confuso contra a secura este que vou travar com a minha casa. O que me vale é que ainda só é Setembro.

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Uma senhora que vendia artesanato, tinha-nos dito que iríamos encontrar um grande restaurante para almoçar por menos de 10 euros. Disse que até já lá tinha ido uma vez e que era bom. A Praia da Luz é hoje uma espécie de colónia britânica situada perto de Lagos, no Algarve, onde não se consegue comer peixe por menos de 20 euros. Então, depois de darmos um mergulho resolvemos vir pela estrada nacional. Encontrámos o restaurante e encostámos as biclas à parede. Era de facto enorme e como em dias de sol à hora de almoço os reformados ingleses preferiam ficar pela aldeia entrámos numa sala completamente envidraçada e vazia. Estava calor lá dentro. Olhámos um para o outro apenas para confirmarmos a estranheza e fomos entrando devagar, até que apareceu uma portuguesa redondinha. – Servem almoços? – Perguntei. – Sim. Podem sentar-se onde quiserem. – Escolhemos uma mesa perto da porta, onde havia mais ar fresco, junto aos vidros e começámos a jogar xadrez. Pedimos frango, era o que saía mais rápido. Estávamos já a meio do jogo ainda sem vir a comida, sozinhos, sem ninguém a olhar e eu estava a ganhar o jogo, quando no vidro atrás de mim se ouve um som seco (poc!) seguido de um som de raspar que logo terminou (vvv...). Olhámos e vimos um pardalito de asas semiabertas atordoado no degrau que antecedia o vidro. Lembrei-me com são raros estes momentos e, certo que ainda ficaria atordoado mais tempo, tirei o telemóvel da mesa, fechei a app do Xadrez e liguei a câmara. Entretanto o B.Azinho tinha tirado a T-shirt para o apanhar e soltar, ao mesmo tempo que me dizia para não fotografar. Empurrou-me abrindo caminho para se colocar a um metro da ave. Estava-se ele a pôr em posição de o capturar, mas raios, eu tinha ficado irritado (tinha-me impedido de registar o momento sem qualquer paciência), pico de testosterona ou coisa parecida, agarrei-o pela cintura, e puxei-o para trás no exacto momento em que ele se atirava para a frente, o pássaro levanta voo, a minha cadeira cai ao chão e já não o vimos mais. --Então?!! Tás parvo? Tu não vês que ele assim vai começar aí a voar contra os vidros até morrer!? Lá no ginásio às vezes eles entram para lá e tens de os apanhar logo. -- Disse-me ele. Não falámos mais durante o almoço todo, o frango era pequeno e sabia mal. Não recomeçámos o jogo. Íamos pedir o café quando de novo, o pardal passa, bate no vidro e cai ao lado dele... Ficou a abrir o bico e a fechar. Ainda em silêncio o Carlos levantou-se tirou a T-shirt. Apanhou-o e levou-o lá para fora. Eu a espreitar de cabeça virada para o prato. Até que não consegui e vim cá fora. Já o Carlos regressava. – Morreu. – Fui ver e tentei fazer massagem cardíaca no meio de uma poça de líquido. – Molhei-o com água para ver se ele arrefecia. – Disse o B.Azinho. Efectivamente o pássaro já não voltaria à vida. – Queres café? – E eu, – Sim. – Fumei cigarros enquanto ele poisava o pássaro num terreno ao lado do restaurante. Pedi desculpa ao fim do terceiro.

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Nessa noite eles foram sair e eu fiquei em casa a trabalhar. Como são todos sensatos e não tínhamos nenhum compromisso no dia seguinte não me preocupei quando às quatro da manhã decidi ir dormir sem eles terem chegado. Nem sequer lhes telefonei. Acordei às onze, atravessei a sala para ir à cozinha e vi que já tinham chegado. Tentei não fazer barulho. Quando cheguei à cozinha reparei que não tinham tido muito cuidado quando chegaram. Fiz uma taça de leite com cereais, aveia e amendoas e estava eu a ferver o café quando um deles me entra pela cozinha com cara de caso e com cara de ressaca. – Bom dia! – disse eu. – Mmm? – respondeu ele. – Então? Ressaca? – Pior... – retribuiu. – Quê? MD? – os olhos dele estavam esbugalhados, pupilas dilatas e a cara estava desfigurada. – Pior... – Pior?!! Então? – Smartshop. – E olhou para mim como que à procura de uma resposta. – Smartshop?!! Mas vocês são malucos! Que idade é que têm???? Não sabes que essas merdas são todas feitas em farmácias de vão de escada e que só são legais porque nunca foram experimentadas. Foda-se, e eles? Também? – Calma João. – Também tomaram eles? – Sim. Não tenho os pensamentos fluídos. – Foda-se! Olha que esta... O que é que tomaram? – Uma merdinha de nada. 10 Euros. — e repetiu – Não tenho os pensamentos fluídos. Salto. Quero ter um raciocínio e não consigo. Estou a pensar nas coisas e aparece-me um cavalo. – Calma. 2+2? – não respondeu e eu repeti. – Olha para mim. 2+2? – 4 – Que cor é esta? – Azul. – Pelo menos consegues entender o que te digo e consegues responder. E o que foi que tomaram, como se chamava? – Stardust. – Star quê? Mostra-me o saco se faz favor. – Tem calma João! Tu és a pior pessoa para se falar nestas alturas. – Tenho calma??? Então tu não sabes que essas cenas só são legais porque eles sintetizam moléculas novas sobre as quais não há estudos? E tu vais mandar uma cenas dessas? És parvo? – ele deu-me o saquinho. – Eu não sabia. Nunca pensámos... Era só putos à porta. A gente entrou naquela e decidimos experimentar. Fomos à net ver e dizia lá uma hora a duas horas de efeito, já lá vão 8 horas e ainda nada. – Parei de comer e fui à net pesquisar. Em dois ou três minutos fiquei a saber que esta droga era a versão nova de uma anfetamina, mefedrona, que já tinha ficado na moda em Nova Iorque em 2007 até terem morrido algumas figuras públicas da noite, altura em que foi proibida a sua comercialização em vários países. Então alteraram a molécula e criaram a Stardust Extreme, que se pensa que seja ainda mais mortífera e que também já foi proibida em alguns países. Fui ler os efeitos secundários e, apesar de violentos, acalmei-me. Afinal de contas eles tinham comprado a quantidade mínima, 0,2g a dividir por três, de uma versão light (Stardust apenas, e não Stardust Extreme) e estavam vivos. Além disso, ele podia estar com pensamentos errantes, mas conseguia andar e falar com lógica, em suma, ainda tinha os neurónios a funcionar. Quando chegaram os outros dois já não tiveram direito a descasca. Nesse dia tentei tratar bem deles. Já todos tinham tomado mais drogas que eu mas estavam bastante assustados. Nunca tinham tido uma experiência assim. Cozinhei o almoço, tentei acalmá-los, fi-los ver que estavam bem e que iam ficar melhor, marquei mesa para jantar num sítio bonito, e eles foram passando o dia, sempre lamentando a angústia que sentiam. Profunda. Foram relaxando, ouvi-os e tentei ir relativizando. Tinha a certeza que iam ficar bem. Disseram-me tiveram de beber água dos aspersores, que até foi fixe nas primeiras horas, mas que tinham alguma dificuldade em expressar o que sentiam... Contaram-me também que viram passar um méne que já nem sequer conseguia ter os braço normais, que parecia deficiente motor com expressões faciais parecidas com as de uma pessoa com paralisia cerebral. Garantiram-me que ele era normal e que de certeza que tinha tomado muito mais que eles. Sentiam-se culpados porque ele tinha pedido ajuda e eles nada. Mas como um deles disse e com razão, naquele estado nunca conseguiriam ajudá-lo. Eles, no dia seguinte, estavam bem e começaram a sorrir.

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