Manuel António Pina
Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio,
é algo em ti que procura algo em ti no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos (principalmente os meus sentidos) toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.