A quem não conhece Eugénio de Andrade, uma selecção...
Sê tu a palavra
1.
Sê tu a palavra,
branca rosa brava.
2.
Só o desejo é matinal.
3.
Poupar o coração
é permitir à morte
coroar-se de alegria.
4.
Morre
de ter ousado
na água amar o fogo.
5.
Beber-te a sede e partir
- eu sou de tão longe.
6.
Da chama à espada
o caminho é solitário.
7.
Que me quereis,
se me não dais
o que é tão meu?
--
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
--
Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
--
À breve, azul cantilena
dos teus olhos quando anoitecem.
--
1.
Sê tu a palavra,
branca rosa brava.
2.
Só o desejo é matinal.
3.
Poupar o coração
é permitir à morte
coroar-se de alegria.
4.
Morre
de ter ousado
na água amar o fogo.
5.
Beber-te a sede e partir
- eu sou de tão longe.
6.
Da chama à espada
o caminho é solitário.
7.
Que me quereis,
se me não dais
o que é tão meu?
--
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.
--
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
--
Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
--
À breve, azul cantilena
dos teus olhos quando anoitecem.
--
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.