O meu irmão é meu irmão e de mais ninguém

Ele que me perdoe estar a contar esta historinha mas tenho orgulho suficiente para a não conseguir guardar para mim. Andou no hóquei em patins, no karaté, piano, guitarra, futebol, basquetebol, nada o entusiasmava demasiado... Contou-me a minha mãe em desabafo recentemente que os meus pais nem sabiam muito bem o que fazer com tal desinteresse. Ele não queria ser pintor, nem médico, nem advogado, já não me lembro bem se passou por uma fase de querer ser polícia... Ela disse-me que ele não tinha grande interesse pelas alternativas que conhecia... Mas eu lembro-me bem dele na sala a dançar e imitar os músicos dos concertos... via-o vibrar a ver os VHS gravados de concertos de homenagem ao Freddie Mercury. Eu imitava o Michael Jackson e ele imitava o Fred. Quando eu tinha 14 ou 15 anos comprei um djembé, e ele bem que andava sempre lá de roda... comecei a dar-lhe umas dicas, coisa pouca. Eu que não percebia nada daquilo sempre tinha mais 3 anos de idade. Até que pouco tempo depois a nossa garagem começou a servir de sala de ensaios e atelier de artes experimentais para a malta, muito por iniciativa dele e dos amigos dele, mas até fazer 18 anos aquilo juntou duas gerações. Às vezes estávamos lá 30 de portão aberto para os campos de mato bravio, campos de futebol, corrida, basket da escola. O pessoal aparecia lá com instrumentos de sopro, trombones, tubas, clarinetes... Tínhamos tudo lá, água, patins em linha, mantinhas, bolinhas e massas do malabarismo, bolas de futebol, skates e tacos de basebol, peças suplentes para tudo, cadeiras, aparelhagem, remédio para as pulgas e carraças dos cães que iam aparecendo e íamos afagando, tablas, congas, bongós, baixos, guitarras, amplificadores, gravador de CDs, teclados, microfones, pandeiretas, triângulos (antes de serem inventados), didgeridoos e, um dia muito especial, sorte das sortes, o Xico também guardou lá a bateria dele.

Daí para frente fui, ou fomos, apenas espectadores atentos e orgulhosos e eu pouco mais fiz do que mostrar-lhe beats de Viena umas coisas electrónicas sincopadas em jeito de desafio e outras menos sincopadas somente para lhe dizer que o jazz não era tudo na música... O resto foi com ele...
10 horas por dia de "treino", mais 3 horas na net agarrado a sites de música e de downloads, a ver vídeos do Youtube, fotocopiar, comprar e estudar livros, aulas de música na Academia do Música do Fundão, 2 ou 3 anos Hot Club de Portugal em Lisboa e, finalmente, veio para a ESMAE (onde só entra um candidato por ano para a licenciatura em Bateria).
Encontrou uma grande cena dele e dedicou-se.
E hoje: http://www.youtube.com/watch?v=qf_awwe-3VQ&feature=youtu.be&t=3m59s

Mensagens populares