Até breve querido Eurosom

Mais uma vez, querido Eurosom, cheguei ao fim e sou eu e tu. Não é grave. Não é nada de novo. Parece que fomos feitos para acabar quase sempre assim, entre a ceia do Natal e a festa do Ano Novo, um com o outro. Mas pergunto-te: será que precisamos disto para o ano? É que eu acho que temos de ter a conversa. E não te digo isto com sarcasmo ou frieza. Isto nem sequer me diverte. Bem tens visto, a net desenvolveu-se e eu com ela desenvolvi uma nova relação. A culpa não é do Facebook, nem do Google Plus, nem do Tumblr, nem do Youtube. A culpa também não é tua, mesmo. Infelizmente, vou dar-te a "não és tu, sou eu" routine. É uma questão de postura.
Como já reparaste eu já quase só aqui venho arranjar-te a roupa, arrumar as minhas coisas, mostrar-te umas música novas e revisitar um passado que foi bonito e intenso. Eu antes escrevia tanto aqui. Desabafava sobre as merdas e as maravilhas desta cidade, deste país, sobre design de comunicação (e nós sempre nos soubemos promover :), sobre política, sobre os meus colegas de escola... enfim uma telenovela sem grande fio condutor senão a nossa própria relação. Aquilo que nos juntou foi a música mas com o tempo tu deixaste de ligar muito e em 8 anos nem um player de jeito arranjaste. Mas não foi por isso, bolas!!! sabes que tínhamos muito mais em comum. No dia em que te deixo, já temos mais de 200 stalkers/voyeurs diários. E isso é muita coisa. é porque alguma coisa de jeito temos andado a fazer.
Tentei tudo o que me pareceu valer a pena e tudo o que me apeteceu, e com mais uns aninhos em cima, não fiz tanta merda. Garanto-te. Acontece que a minha personalidade não foi construída para um mundo onde as opções virtuais (os mais, os likes, os friends, os unfriends, os shares, os blocks, os subscribes )se apresentam como as definições das construções socio-emocionais. Não fui feito para conseguir compreender estas opções como justificadas ou justas, fermentadas e com vida. Estou em crer que nenhum ser humano foi feito para se conseguir reduzir à imediatez da aceitação sem perigos e da rejeição sem arrependimentos.
Mas mais importante que isso, não fui feito para ser imune à música e às imagens, às palavras com que as outras pessoas se vão definindo aqui. Tenho para mim que ainda não existem pessoas que compreendam que isto é efectivamente apenas e só uma representação. Que ninguém conhece mais do que avatares. É verdade que toda a gente consegue dizer e entender isto, mas vai-se a a ver e as pessoas ficam mesmo sentidas por aquilo que estas representações das pessoas fazem. As pessoas conseguem criar expectativas de perfeição, conseguem criar monstros de estimação... As pessoas apaixonam-se aqui, odeiam-se, desleixam-se, ignoram-se. Opá, e tá tudo bem, é connosco. É com as pessoas. É da nossa liberdade. Eu optei por ver no que isto dava mas como estamos no fim do ano e é tempo de reflectir...
Tenho vindo a pensar que ao mesmo tempo que encontrei uma janela aberta para o mundo inteiro, deixei de usar tanto a porta da rua. Tu trouxeste-me a admiração e o desdém dos lurkers. Trouxeste-me reconhecimento e mesquinhez. No entanto há coisas que tu e os teus amigos trabalhadores aqui da net não me trazem. Eu pensava que conseguia controlar isto mas não. Eu não estou a dizer que tenho muito mais para dar do que aquilo que sempre tentei dar-te aqui. Mas sei que hoje sinto que não preciso de perder mais tempo por aqui. Não me leves a mal.
Não sei se alguma vez voltarei, se para a semana não estou já com outro post aqui a chorar de saudades, o futuro a Deus pertence. Sei que me vais aceitar de volta. Também não sei quanto tempo vai durar a minha relação com as outras plataformas. As poucas certezas que tenho sobre o assunto são as que com que aqui te confronto.
Não fiques triste meu querido amigo. Mesmo que eu nunca mais te volte a escrever, sabes que nunca vou esquecer estes 8 anos contigo.
Adeus querido Eurosom. Agora, tenho uma carta para escrever.

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