Deviam ter vergonha

Recebi uma newsletter da ADDICT! E pumbas, tive de te voltar a usar, meu caro Eurosom, para descarregar a agitação que esse documento me aventou ao corpo. A ADDICT inteira mas principalmente os seus trabalhadores estão agora bem caladinhos, mas quando os fundos acabarem vão começar a espernear e vão perguntar-se: mas o que é que correu mal? O que há-de ter corrido mal é que vós tenhais sido, além incompetentes e arrogantes, muito pouco eficazes em tornar um punhado de sementes numa horta, e teréis cometido a imprudência de as usar para temperar uma merda duma francesinha.
Torna-se desmotivante para quem sabe o que está a fazer "assistir ao Porto". É horrível assistir ao desfilar daquilo que se quer fazer passar como o Porto. Nada daquilo que vêm na TV sobre esta cidade, muitos dos cartazes que se descobrem nestas paredes, e quase nada do que passa na rádio representa realmente o que de melhor se faz nesta cidade. A crítica de design anda demasiado preocupada com as AGI's e com as instituições de ensino superior para conseguir dialogar com a cidade (nem sequer falar para a cidade). Assim, o Porto que hoje é mais feito de portuenses do que de tripeiros, vai-se abandonado ao abrigo de bolsas de emigração Inov-Art (como foram possíveis estas bolsas?!!! Vai-te embora que a gente dá-te 2500€/mês para não passares dificuldades. Com um ordenado médio em portugal de 800€, se atribuissem metade desse valor ao dobro das pessoas para ficarem e começarem os seus próprios projectos a história que eu escrevia hoje era outra. A crítica de música está sentada a ler o P2 (pode dizer-se que não existe) e portanto não será de admirar que mais tarde ou mais cedo as pessoas que não trabalham nesta área, acabem por pensar que o Porto é o "mítico"Hard Club. Esse bar-discoteca, que fechou há quase dez anos para abrir este ano exactamente com a mesma programação e mais algumas iniciativas culturais ao bom estilo da FNAC. Até os cartazes são iguais aos que eu via na rua quando cheguei ao Porto! Sinto-me completamente imbecil porque percebo que o que um tipo andou a fazer durante 10 anos consegue ser abafado com os últimos milhões que a UE nos atirou para este QREN. Se a ribeira ficasse outra vez cheia aos fins de semana e não houvesse cartazes do Clubbing em todos os tapumes diria que tinha acordado em 1999. Alguns patrocinadores, alguns clientes, alguns críticos, alguns designers, alguns músicos, alguns políticos, deviam ter vergonha por deixarem passar um "rei" que vai nu sem lhe dizerem absolutamente nada Mas como não têm vergonha, ou não têm tempo para a ter porque estão muito ocupados a fazer a festa, e infelizmente, às vezes a minha alma regressa ao Porto, e porque ainda tenho de olhar para o lado, acabo por ficar eu, sem grande culpa no cartório, deveras embaraçado com a imagem e atitude que esta cidade vai construindo. Mas também há dias em que não. Dias em que isto desaparece dos meus pensamentos, porque estou entregue aos meus botões no meu caminho até ao trabalho por onde não passo pelo Hard Club nem pelo palácio da bolsa, nem pelo palácio das artes.
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