iééaahh!

Esta moda de se educar as crianças como quem administra complexos vitamínicos anda-me a fazer espécie. Mas o pior é que estes complexos vitamínicos têm bulas com instruções de dosagem e frequência que têm que ser seguidas à risca sob pena de se comprometer a felicidade. Como e em que tom dizer "não", como evitar que se percam no supermercado, qual a idade adequada para visitar uma quinta pedagógica, como escolher-lhes um livro e como ler-lhes o livro, de quanto em quanto tempo permitir que tirem dinheiro do mealheiro, de que forma os colocar na cama, o que lhes dizer sobre a morte, o que dizer sobre o divórcio e a que horas, o que dizer sobre o sexo e sentados em que tipo de cadeira, como prepará-los para a chegada do irmãozinho sem que se sintam mal-amados, como dizer-lhes que são as pessoas mais importantes da sua vida sem que fiquem a pensar que mandam lá em casa, como transformar a visita a um museu numa aventura, com que ponta do lenço de papel lhes limpar as lágrimas, quantos dentes deve ter o garfo com que comem a fruta, qual a hora mais indicada para lhes dizer que amanhã vai chover, como cortar-lhes as unhas dos pés de forma a que não venham a tornar-se toxicodependentes, quantas vezes por mês lhes podemos levantar a voz e quais os decibéis permitidos para não virem a sofrer de problemas de audição aos setenta anos.
E ninguém desrespeita a bula, com medo de ser atacado por uma bactéria resistente que, inesperadamente, pode até chamar-se liberdade, individualidade, consciência ou plenitude. Também ninguém questiona a possibilidade de este complexo vitamínico não passar de placebo.

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