In Ressabiator


Há situações em que até dizer mal de alguém é um favor que lhes estamos a fazer. É o caso daquelas “personalidades” – leia-se “parasitas” – do design que promovem a boa disposição (e a si mesmos) abafando a crítica: alguns declaram com a gravitas de um prémio Nobel da Paz que nunca diriam mal de um colega, dando a entender que seria falta de chá, talvez até concorrência desleal fazê-lo (mesmo se esse colega faz mau design, se esquece de pagar aos estagiários ou ganha regularmente concursos sem que se perceba como). Outros sentenciam que criticar é afirmar-se dizendo mal dos outros (muito diferente de afirmar-se silenciando as opiniões alheias, o que, pelos vistos, já é aceitável).
Responder a este tipo de afirmações seria tempo perdido, se não houvessem pessoas que as dizem em público, se algumas delas não dessem aulas, onde propagam estas tretas em voz alta aos seus alunos, que até podem acreditar que são um modo de argumentação válido. Apenas por isso, vale a pena dedicar-lhes um niquinho de tempo, lembrando o óbvio: estes apelos à boa disposição não são boa argumentação; antes pelo contrário, são exemplos perfeitos da falácia do Apelo às Consequências, que desvaloriza a argumentação do interlocutor, não porque seja falsa, mas porque piora o ambiente – como todas as falácias, é apenas uma maneira mais ou menos educada de mandar calar o parceiro quando não se tem argumentos para lhe responder. No fundo trata-se apenas de pôr a música mais alto para abafar as queixas.
No caso dos palermas que acham que o objectivo do crítico é afirmar-se dizendo mal dos outros, a falácia é distinta: desvaloriza-se uma opinião não porque seja falsa, mas por causa dos motivos que levam alguém a tê-la: “só dizes isso porque tens inveja” é um exemplo clássico. Mais uma vez: as razões que levam alguém a dizer qualquer coisa não afectam em nada a validade daquilo que diz. Ou seja: denunciar uma mentira por altruísmo ou por inveja é indiferente – os motivos do denunciante não atenuam aquilo que denuncia.
Este género de falácias são perigosas porque, disfarçando-se de apelos à harmonia e às boas intenções, limitam ou mesmo silenciam opiniões alheias. Em último caso, dão a entender que não há outro motivo para discutir que não a má disposição ou vontade de armar confusão. Quando são levadas a sério, têm como consequência a diminuição da participação democrática, substituindo debates por trocas de palmadinhas nas costas, abreviando reuniões porque discutindo não se chega a lado nenhum, etc.

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