Carta aberta aos jovens de Abril,

homens de hoje e idosos de amanhã.

Um texto sobre liberdade, escravatura, riqueza, pobreza, crime, castigo, presente e futuro.


Há já algum tempo, muito tempo antes das Burcas serem o centro da discussão sobre iconoclastia (proibição de ostentação pública de alguns signos/sinais/roupas), que existe uma lei que diz que os cidadãos, por questões de segurança, têm que andar de rosto descoberto, para que sejam indentificáveis, para que possam ser reconhecidos (o Carnaval é excepção). Quanto a este assunto, (eu que não era contra as Burcas talvez por nunca ter convivido diariamente com elas) já estou convencido que não é por se tratar de um símbolo religioso que se pode fechar os olhos à lei. No entanto, se a ostentação de símbolos ou a prática de um acto (religioso ou não) causar apenas reflexão, não vejo porque se deva ou possa proibir.

Pelos vistos assim não pensa o Durão Barroso que acha que a liberdade de culto, "ao contrário do calibre da fruta e do peixe", não é assunto que diga respeito à Europa, mas sim aos seus estados membros. Se em França decidirem proibir todas as manifestações religiosas em espaços públicos, um italiano, um português ou um espanhol, qualquer um deles terá que ter cuidado com o fio de ouro, a camisa aberta e cruz ao peito a meio da viagem. Chega à fronteira e toca de apertar o botãozinho que no norte não se mostram latinices de mau gosto.

E os constrangimentos impostos pelos estados ao mercado (empresas públicas, golden shares, legislação comercial...). Será que tudo isso também tem que passar pela CE sem que haja sequer uma Constituição Europeia a ser justamente cumprida?
Pergunto-vos o que legitima esta contradição:
Na mesma semana em que se pronunciaram sobre a Golden Share que o governo Português usou na empresa que criou (a PT) para vetar a proposta da Telefonica, os nossos representantes na Europa impediram uma OPA da Ryan Air à sua concorrente na Irlanda, argumentando que isso significaria um passo grande para a construção de um monopólio nesse país.

Que políticas são estas? Quais são os critérios? Alguém sabe? Eu cá desconfio que isto sempre esteve mais ou mesmo assim, ou pior, mas como não havia crise financeira, os pobres, bem educados mas sem MBAs, não sabiam de nada... (como pobres e bem educados que são, falam baixo e não reclamam sem que antes compreendam tudo muito bem) .
Agora os pobres são os desempregados e os jovens com acesso à informação, e, para espanto vosso, suponho, meus senhores com 55 anos, os pobres são também grande maioria das pessoas com mais de 60 anos.
Por isso meus caros, se quiserem reformas têm que ouvir o que temos para dizer: exigimos que ponham as cartas todas na mesa antes de espernearem pela justiça entre as grandes corporações e assustarem os cidadãos europeus com perspectivas de colapso económico causado pela falta de incentivos às instituições de crédito.

Eu, como muitos outros, não acredito, num Estado ou num conjunto de estados, que acha que os lucros das grandes empresas servem apenas para estimular o investimento, e que a riqueza das instituições religiosas serve para alimentar quem não tem possibilidade de ter ou trabalhar numa empresa multinacional.

É que sabem, senhores que votam no PS e no PSD e no PP, ainda ontem, o presidente da Comissão Europeia também disse que a União Europeia conta com, e realço: "a ampla e profunda experiência das instituições religiosoas no combate à probreza".
Então, dizem-nos vocês, que a Caridade é política assumida pela UE para resolver as grandes diferenças sociais?
Assim sendo, quero eu saber, onde posso ler sobre legislação comercial aplicada às empresas multi-estatais (multi-nacionais?). Também gostava de saber em que directiva do Parlamento Europeu é que se pode ler que a riqueza das instituições religiosas é aquela deve ser repartida pelos pobres que, nalguns casos nem sequer vão poder agradecer publicamente (ostentando um sinal da sua fé).

Sejam sérios se esperam isso de nós.
Têm que entender, que o ponto de partida para todas leis, é que os cidadãos europeus são seres humanos e como tal, devem ser tratados com igual dignidade entre si.
É do vosso interesse responderem as estas questões. Sabem que não nos têm facilitado muito a vida, nos últimos anos e já estamos a ficar mais velhotes e com algum poder. Temos forças nas pernas... Toda a riqueza que nós produzirmos pode ser ou para nós, ou para todos... só depende se querem que fiquemos por cá (dentro do "Sistema"), e se sim, se preferem que fiquemos enquanto cidadãos ou como seres humanos.

Queiram saber que mais cedo do que pensam vamos estar a decidir sobre sobre o vosso futuro e que se não se aprontarem a juntar o termo "ser humano" e "cidadão" num mesmo conceito, será bem mais difícil conseguirmos julgar bem com a vossa conjuntura montada sobre valores que nos parecem destroçados.

Só por curiosidade...
quando vocês eram adolescentes ou crianças eram estas a músicas que se faziam:


E connosco, já foi isto:


Significativo, não?

Mas não tenham medo. A guerra não há-de vir.
Para as crianças de hoje nós já estamos a fazer isto ;):


Por favor sejam breves e acertivos na resposta.
Com os melhores cumprimentos
João Alves Marrucho, 29 anos

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