O país pentelho,
A apreensão mais pentelhuda da história da Polícia de Segurança Pública Portuguesa gerou ondas de choque que se propagaram das páginas de tribunícios-vitalícios da imprensa, até à sacrossanta blogosfera. Era de esperar.
Debater pornografia, liberdade de expressão e censura é um caldo muito apreciado cá na Portugália, país das pentelhices.
O tal quadro do francês que ilustrava a capa do livro “pornocracia” levou uma pachachinha de matagal farfalhudo ao píncaro do debate onanista. Sem grande paciência para antropologias pornográficas ou moralismos da gaita, gostaria apenas de organizar as reacções em tês estádios de erecções espontâneas:
1º O caso: As mães ofendidas de Braga e os agentes da PSP
As senhoras e os senhores que consideram ofensivo um grelo púbico exposto em estante de feira do livro, estão no seu pleno direito de se sentirem ofendidos. Eu cá também acho que com tanto grelo bonito e rapadinho que há por aí, é uma ofensa ao bom gosto púbico ter aquela farfalhuda vagina nas bocas do mundo.
Quem se sentir ofendido, mesmo que seja com pentelhos, está no seu pleno direito de se queixar à porteira, ao presidente da junta, ao bófia, ao pároco, ao cardeal ou ao Tribunal Internacional dos Direitos do Homem.
Se numa sociedade dominada pelo deboche da ética pública e pela pornocracia política, pela corrupção, pelo compadrio e pela lei do salve-se quem puder; se nessa sociedade há quem ache que a sua cidadania se exprime pela pudicícia, quem sou eu para me enxofrar com isso. No mínimo, dou um conselho desinteressado – não frequentem feiras do livro e museus, que podem corromper os vossos entes queridos, mantenham-se pela televisão e pela internet, essas sim, impolutas e castas.
Já aos zelosos agentes da Segurança e Ordem Pública ficaria melhor um conhecimento mais profundo da indústria pornográfica e dos seus trâmites legais, para não fazerem figura de urso, papel a que de resto estão habituados. Um pouco de cultura pornográfica é o mínimo que se exige a quem combate o crime. Quem anda a caçar pentelhos deixa pedófilos à solta.
2ºA reacção: Os libertários da pila murcha
Ò da guarda, anda aí a censura outra vez! Cerraram fileiras os libertários com os libertinos, os estarolas do politicamente correcto com os mija-prosa costumeiros e foi o que se viu.
Insultos do piorio às mãezinhas de Braga, teologias da libertação sexual, cantos laudatórios à auto-determinação da pichota e à emancipação do grelo, ataques à bomba ao Cardeal, um verdadeiro festim para este nosso povo que ama a liberdade e a defende com a generosidade própria dos fanfarrões, quando em causa está o pentelho e a liberdade de o pintar, publicar e apreciar. Esta malta faz-me lembrar o coleccionador de pentelhos do filme de João César Monteiro, com a grande diferença de não terem graça nenhuma.
Indignam-se com um episódico digno de anedotário, e deixam em rédea solta o Sr. Santos Silva e a ERC, e a mais perigosa e fúnebre censura que há anos se pratica em Portugal, que é uma censura pela calada, pelos corredores da política e do jornalismo, do negociozinho e do silêncio pesado da impunidade.
Basta ver o sorriso cínico e auto-contente de um juiz quando tem na sala um jornalista, para se perceber que a liberdade de expressão, a liberdade de opinião e a liberdade de imprensa ainda são tratadas em Portugal como “revistas pornográficas” no Antigo Regime.
Em vez de encanitarem na defesa da estimável “Gina”, era bom que estes brochetas das causas púbicas começassem a defender a liberdade “tou court”, e não só aquela que lhes interessa para os seus brilharetes opinativos. Com libertários destes, prefiro ser um libertino de Braga, como o Luiz Pacheco, que ele é que os topava bem, aos padrecos – os do crucifixo e os do politicamente correcto.
2ºA contra-reacção: O gajedo que confunde vida sexual com pornografia
O assunto podia morrer na paz dos cemitérios, que era de onde nunca devia ter saído, mas não. Organizou-se ainda uma contra-reacção, expressa por algumas das mais originais cabeças pensantes da blogosfera. Esta terceira estirpe do vírus é de longe a mais tresloucada na pentelhice.
São normalmente gajas modernas, que envergonhadas de alinharem na falange das mães zelotas de Braga, decidiram apontar baterias sobre todos aqueles que escreveram ou se pronunciaram sobre o caso, acusando-os de pornógrafos e punheteiros.
Só mesmo em Portugal é que se pode chegar a este ponto de confundir saladas de mamão com mamadas no salão. A pretexto deste episódio picaresco, estas modernas senhoras, mais velhas em preconceitos que a Sé de Braga, decidiram exclamar o seu ódio profundo à pornografia.
Ora bem, o que elas não sabem, nem nunca vão saber, é que pornografia não é só uma coisa de gajos rebarbados, de pais mal fodidos ou de tarados sexuais. E se não sabem isto, também não sabem muita coisa sobre homens, apesar quererem acreditar que sim.
Do alto da sua moralidade beatéria, da sua suposta sofisticação “cool”, fazem sexologia barata e preconceituosa, como aquela que estigmatiza as revistas masculinas. Ora meninas, já leram bem algumas das coisas que se escrevem em revistas femininas? A maior parte das revistas femininas que eu conheço são exclusivamente sobre sexo, e disfarçam com moda, malas, cosmética e spas. São revistas totalmente dedicadas às frustrações sexuais, criando um ambiente de ilusão romântico e sensual, exactamente como num bom filme erótico-pornográfico.
Não vejo grande diferença entre uma leitora dessas revistas ou um (ou uma, que também as há) ou um consumidor de pornografia. E também não vejo razões para que nem uns nem outros tenham de ter diagnosticado uma “insuficiência de vida sexual”, como pensam as feministas tontas que acreditam que a pornografia é coisa de rebarbados que induz à masturbação.
A pornografia é uma das formas mais antigas de representação da sexualidade, se quisermos da sua ritualização distorcida, e além disso, a pornografia é muito mais barata, conveniente e estimulante do que pagar o jantar a uma gaja destas, e até do que ir para a cama com muitas delas.
Posto isto, vou ao PornoTube, que sempre é melhor do que estar aqui a gramar com este país pentelhudo.
Texto de Rui Pelejão Marques, A23 Online