No jornal da "nossa" terra.
Se os accionistas do Banco Privado Português e os administradores dos bancos portugueses têm o seu dinheirinho a salvo por causa dos riscos sistémicos de contágio do sistema financeiro, eu e os mineiros de Aljustrel também podemos dormir descansados.
Afinal se eu ficar teso os riscos sistémicos para meia dúzia de bares, restaurantes e FNAC`s são muito elevados, tal como para as tabernas e mercearias de Aljustel, caso os mineiros fossem lançados no desemprego.
Este Rui Pelejão execede em estilo e joie de vivre a esquerda-caviar. Arruma qualquer bloquista.
Rui Pelejão escreve sobre os neo-liberais de pacotilha
Estado de providência
Os professores de Economia Política da Universidade Católica andam num lufa a ler as entrelinhas da “Economist”, a refazer os seus manuais e a tirar o paletó do Keynes da naftalina. As tarefas do revisionismo histórico são mais pesadas do que a pura especulação teórica. Enfermeiras do capitalismo acamado, coitadas.
Por este andar, João Carlos Espada, o Popper português, está qualquer dia a dar de comer aos patos do lago do Campo Grande ou a reescrever a história económica da Albânia - o que seria mau para os albaneses, mas tranquilizador para a saúde digestiva dos patos.
A crise intestinal do capitalismo está a ser combatida com uns “clijsters” que não lembram nem ao Dr. House nem ao Enver Hoxha e que deveriam fazer qualquer liberal que se preze pegar em armas ou em estalinhos de Carnaval.
Uma coisa é certa, esta crise mostrou que a mão invisível não vai à manicure. Tem as unhas porcalhotas de tanto as meter no bolso dos outros.Ora, como eu sempre desconfiei, não há verdadeiros capitalistas ou liberais.
Os liberais encartados são de cátedra ou de oportunidade, e andam agora a assobiar para o ar, a fazerem-se de esquecidos. Uma arte nacional, o esquecimento premeditado.
Há apenas ricos e gananciosos a defenderem um modelo que permita multiplicar a sua riqueza sem grandes chatices, e os outros, que um dia gostariam de poder ser capitalistas e liberais, desde que não tivessem uma prestação da casa para pagar ou uma multa do IRS para saldar.
Como sabem que nunca chegarão a ricos, bebem martinis e maldizem o Governo e os ricos, e toca de emborcar mais uma que amanhã há avião para uma semanada de férias no Brasil, com pulseirinha de tudo incluído. Os ricos que paguem a crise.
Ainda não chegamos ao olho de furacão da crise, mas os sintomas de demência “ideológica” são evidentes. Os arautos do liberalismo económico parecem baratas tontas; basta ver a tese peregrina defendida pelo director do “Público”, de que esta crise financeira resulta do excesso de regulação do Estado decorrente do intervencionismo económico do Plano Marshall.
E já agora porque não discutir o dirigismo económico das tribos Neandardal ou o centralismo financeiro do Imperador Pepino, o grande?
Sabendo que a farmacologia para doenças mentais está tão avançada, não se entende porque é que o Estado não comparticipa fármacos para estes notórios casos patológicos que esperneiam nos jornais e nos blogues como maluquinhos num manicómio.
Por favor mediquem-nos ou então internem-nos. Podia até criar-se uma ala psiquiátrica para estes casos no Júlio de Matos, chamada, por exemplo – Ala Pacheco Pereira, ou o corredor da mão invisível.
Se acham que estou a exagerar, consultem o caderno de Economia do Expresso de há um mês atrás. Em plena “nacionalização” da banca americana, um professor assistente da Católica (de onde mais) defendia com denodo uma medida de “moralização” do Rendimento Mínimo Garantido, ou seja, que os beneficiários tivessem de fazer “prova” da sua pobreza.
A apostólica luminária não explicava lá muito bem como é que alguém faz prova da sua pobreza; talvez sinais de raquitismo, desnutrição, mordidelas de ratos ou a prova de que não têm nenhum leitor de DVD`s em casa. Felizmente esta tese digna de Prémio Nobel da Buraca caiu no esquecimento e ao contrário do que os liberais defenderam, o Estado Providência não está falido, e o Rendimento Mínimo Garantido não só abrange as necessidades básicas da simpática comunidade cigana mas passa também a cobrir fortunas de empresários capitalistas (e logo, liberais) que andavam ao-ti-ao-ti com o buraco financeiro do Banco Privado Português.
É bom saber que o Estado providencia e garante as casas na Quinta da Marinha, os iates e os Bentleys destes “pequenos” aforristas, que para terem uma continha na Dona Branca dos Ricos (o sr. Rendeiro) precisavam no mínimo de um depósito de 50 mil euros.
Percebe-se que para o Dr. José Miguel Júdice quem tenha 50 mil euros para pôr a render no banco seja um pequeno aforrista. É que o Dr. Júdice não é de cá, é de Coimbra.
Mas agora a sério, fico reconfortado em saber que as fortunas deste país estão a salvo do furacão, já que o Estado omnipotente e omnipresente nos protege.
Se os accionistas do Banco Privado Português e os administradores dos bancos portugueses têm o seu dinheirinho a salvo por causa dos riscos sistémicos de contágio do sistema financeiro, eu e os mineiros de Aljustrel também podemos dormir descansados.
Afinal se eu ficar teso os riscos sistémicos para meia dúzia de bares, restaurantes e FNAC`s são muito elevados, tal como para as tabernas e mercearias de Aljustel, caso os mineiros fossem lançados no desemprego.
Uma coisa boa do Estado Providência é que trata as pessoas todas bem: banqueiros, ciganos, bebedolas e mineiros, tudo por igual tem o seu rendimento mínimo garantido, caso contrário haveria grandes riscos sistémicos para a Central de Cervejas ou para o importador do Moet e Chandon.