OLÁ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Hoje fui convidado pelo JAM para dar aqui o meu contributo.
Desde já agradecido. Mais tarde farei a minha devida apresentação aos demais
cibernáuticos bloguistas que acompanhem o EuroSom.

Por agora, deixo um texto que demonstra a minha visão sobre o assunto do post anterior do João da Concorrência.
Saudações.


HÁBITO URBANO DE RAPAZES AMBICIOSOS CHAMADO NOVA EMOÇÃO


De Den Bosch para o Porto, os erasmus João Alves Marrucho e Albino José Tavares trouxeram da Holanda algo que sentiam ser diferente. Holanda essa que fica no coração da Europa - mesmo ao lado da fachada política conservadora de Bruxelas - e é rebelde em relação ao sentido liberal da "way of life". A necessidade intrínseca do homem de chamar os bois pelos nomes, fez com que o Albino e o João decidissem apelidar a coisa de Nova Emoção (NE). O nome tinha sido criado por volta de 2003 devido à reincidente pergunta "que estilo de música é que fazes?". As respostas como "é tipo aquilo, mas tem toques disto e inspira-se naqueles que citaram mal os outros..." motivou a criação de algo que resolveu as longas discussões subjectivas - surgiu NE, juntando-se dois termos que geraram sorrisos com misto de gozo e curiosidade. Depois disso, João Marrucho e Albino Tavares formaram os VEC (Volante Euro Continental). No design gráfico penso que a NE encontra uma das suas principais aventuras em VEC.
Na música, no universo de sons electrónicos, Bino e João consideraram o europeu de batidas aceleradas e wahwahs como o mais emotivo e o que dá mais pica para dançar. Isto terá sido uma das primeiras premissas assumidas do que estava para surgir. As produções de Ana, VEC, Marçal dos Campos, Acid da Semana e Último iam caminhando para a formação de um pequeno núcleo onde a NE, enquanto estilo musical, poderia mexer-se. Bino começava a apreciar Tiesto e Scooter e o Euro Dance ia gradualmente entrando nas playlists dos sets habitualmente tecno minimalistas de +1, a dupla de dj's que protagoniza com Duarte Amorim. Ao puto Nathan Fake chamaram um figo.
Mas o Marrucho estava entusiasmado: "Se não podes pô-los a pensar uma vez, não podes pô-los a dançar duas vezes". Começavam a rolar no skate do João ideias mais ambiciosas para o projecto. Não chegavam as festas de Belas Artes, não chegava só o pessoal dançar: a NE tinha de os pôr a pensar. O aparente fracasso do Porto Rio, espaço onde a editora e produtora Ástato CDR deu os primeiros passos, não fez mais do que calejar o grupo de Marrucho, Bino e Duarte. Depois de uma passagem pelas noites do Artes Múltiplas, a Ástato precisava de, definitivamente, crescer. E então apareceram as quintas do Passos Manuel.

Nesta altura, Marrucho já havia deixado de ser estudante para albergar nos ombros o título de licenciado. A responsabilidade deu-lhe vontade de fazer coisas, mas não o fez perder a juventude. João Marçal e Pedro André juntaram-se ao seu projecto ambicioso de criar uma nova tendência musical no Porto. Albino e Duarte criaram um espaço de trabalho, reuniões semanais: uma Ástato organizada, sedenta de lançar novos temas e novos artistas. As Quintas do Espaço rebentam no Passos com um público fiel e a NE afirma-se como algo que não tem só a ver com a música, mas também com todo um leque de actividades e objectos relacionados com a sua ética e estética.
O João começava a desenhar os flyers-cartazes do Passos e a cara da NE começa a ser reconhecida. Aliás, começou-se a dizer que "isto é NE". Quando algum grupo de atentos discutia imagens gráficas, aquela que parecesse meio naif, com formas oblíquas, 3D e sombras manhosas, era prontamente apelidada como sendo "muito NE". A miscelânea de cores dos objectos gráficos da NE, as fontes estranhas, as formas assumidamente toscas e as photoshopzadas fáceis, que rompiam nos olhos de qualquer simples observador, questionava muita gente sobre o efeito que o curso de Design tinha sob os seus desenhadores.

Ao modo que o tempo vai passando, há os que continuam a não perceber a beleza de tão estranhas composições e descontraídos textos e há os que se renderam definitivamente à fórmula. A aparente cultura do mau-gosto e do pimba já tinha sido adaptada pelos Carrinhos de Choque na música, mas nunca de forma tão assumida na imagem.
A NE confunde o seu estilo com o próprio estilo de quem o publicita. Mas aqui o clássico impera sobre a aparente rebeldia. A antiga t-shirt Carhartt dá lugar a uma camisa padronizada ou lisa, com dois botões desapertados, com colarinhos cobrindo o triângulo da gola de uma camisola, ora neutra, ora de cores estranhas, dependendo do cachecol. A pose de dandy e bonvivant completa-se com o cigarro e/ou o fino, e o ar aparentemente despreocupado. O andar gingão e a dança nervosa criam tiques aos demais acompanhantes de uma tendência. A NE revê-se no homem cosmopolita, apreciador quer de cocktails e inaugurações, como de tascos e cartadas.

Desde o seu embrião, a música, passando pela sua continuação estética nos flyers e cartazes dos eventos da Ástato e do Passos Manuel, a NE ganha também expressão social pela junção de grupos e interesses comuns, e inspira um certo modo de vida. A ele estão ligados uma série de entidades e pessoas, que vão fazendo da NE uma corrente social e cultural artística que é muito jovem e ainda tem pouca matéria de auto-definição e discussão. Todas aquelas individualidades e colectividades que vão sendo referenciadas, não passam de agentes privilegiados de um movimento de todos os que nele se queiram e se possam inserir. A NE é uma "coisa" que vai crescendo em todas aquelas noites de dança, a cada cerveja bebida, a cada conversa de café, a cada hábito urbano de rapazes ambiciosos.

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