Mais um Pouquinho:



Desde a performance de André Sousa "Conferência: a rápida raposa castanha salta por cima do cão preguiçoso", onde foram explanados de modo formal os contextos histórico-socio-culturais que envolveram e vão envolvendo esta geração, que muito se tem dito em relação ao movimento Nova Emoção. O abalo inicial que sentimos depois daquela performance/conferência transformou-se de modo urgente numa mais apurada consciência daquilo que estamos a fazer. Era inevitável.
Por outros termos, todas as discussões sobre o movimento, realçaram a nossa essência.

É nos meandros de algumas das minhas conclusões que vou discorrer acerca da Nova Emoção.

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Antes de mais, parece-me importante afirmar. Afirmar por exemplo com coragem e consciência que vamos tentar apagar este lume brando com gasolina! Assim, por exemplo... uma das diferenças entre a Nova Emoção e os movimentos modernistas, é que este se auto-nomeou, sem ter conteúdo além de uma faixa audio produzida em 2001 chamada El Hit. Uma mão cheia de minutos musicais não fazia um movimento. Sabíamos disso e fomos a pouco e pouco enchendo o termo de carga simbólica com pequenos objectos, com músicas emotivas, posters espectaculares, desenhos grotescos, afirmações robustas, actuações amadoras, pinturas graciosas, coreografias rápidas e outras artes bem bonitas. Acho também que ela pode ser o fim assumido do pós-modernismo. Porque até pode bem ser! Contradiga o discordante, mas antes passo a explicar:
Nascemos com atitude consciente de que se está a fazer história em tempo real. Estamos a brincar aos movimentos e grupos de artistas. E digo brincar porque como num jogo respeitamos as regras. As das vanguardas de há cem anos e as de há 10 anos. Nos dias que correm, por incrível que possa parecer, quando se fala em formação cultural, na rádio e na TV, imprensa, etc., pensa-se logo em teatro, música clássica, romances literários, entre outras coisas extremamente particulares aos hábitos de classes urbanas instituídas por centenas de anos domínio social. Apesar de reconhecer que o pós-modernismo recorreu à cultura popular, também reconheço que não considerava esse lado aparentemente banal da vida, laboratório/campo de trabalho e acção. Nós sabemos que vamos conseguir que a pista de carrinhos de choque, os CD-ROMs, toques reais e polifónicos sejam das primeiras coisas que venham à cabeça duma pessoa normal ou anormal quando utillizarmos a expressão: formação cultural: significando construção de cultura.
A Nova Emoção não servirá para engrandecer aquilo que já se sabe o que é, mas também não servirá para deitar abaixo todo o conhecimento instituído. Ela faz-se mais dos momentos de que vamos gostando mas que não têm grande nome, ou que não têm força para existirem enquanto cultura. "A verdadeira revolução não consiste em derrubar os que caminham, mas antes em levantar os prostrados".
A Nova Emoção é o gel que agrega estes pequenitos clubes jamba num penteado cool, numa de-coração aparentemente supérflua, numa falsa leveza que deixa o homem de cultura incomodado. Atenção caríssimos estranhos, não gostamos só de coisas consideradas foleiras nem gostamos todos das mesmas coisas. No entanto, na cultura contemporânea, não existe terreno mais fértil que o popular. É uma zona maléavel, de memória curta e sem catálogos, porque quem nela actua e quem a mais usa não costuma ter formação clássica, não sentindo directamente a pressão que os meios de comunicação exigem ao produtor de informação e entretenimento. Os avanços tecnológicos sentidos nas últimas décadas (final de anos 80, anos 90 e início dos 00's) permitem que se comunique como se não valesse a pena. Pergunta o astuto interessado: -Então, o que diferencia a Nova Emoção de um Emanuel ou duns U2?
Respondo: -Contexto, consciência crítica e entre-ajuda. Depois de Coimbra ficou claro que somos na grande maioria, de outros sítios que não o Porto. Estudantes do ensino superior que não fazemos o habitual percurso do secundário, escola-casa-casa-escola, mas que ao invés nos fomos juntando em horário pós-laboral, como novas famílias. Compreendemos definitivamente que o Kids não é um dos nossos filmes de referência mas que um Querida encolhi os Miúdos, ou um Regresso ao Futuro cumpriria melhor esse papel. Somos agora conterrâneos, co-existentes, comunicativos por necessidade e por vontade. Amigos preocupados uns com os outros, conscientes estamos a criar discursos "A NE revê-se no homem cosmopolita, apreciador quer de cocktails e inaugurações, como de tascos e cartadas." Praticamos pirataria porque somos contra a contenção de informação, e porque acreditamos que ela deve estar disponível a todos.
Também se diz no café: "Se quiseres espicaçar um gajo normal sem irritar um criador, chama imbecil ao criador, se quiseres irritar um criador sem irritar o gajo normal, diz-lhe que criaste um movimento". Como o Jazz, que se desenvolveu com imensos sub-movimentos (New Orleans, Swing, Bebop, Hard Bop, Cool...) dentro da mesma linguagem mãe, a Nova Emoção Porto já tem contra-sub-sobre-movimentos, Há aí uma certa tendêcia, Pimba Supersónico, Power Pop, Nova Fase, Lusitano-espacial... Uns vão-se encher de significado outros ficarão pelo nome. O importante é que sabemos que estamos a abrir caminho porque nos sentimos livres, como qualquer artista ponta-de-lança deve ter. Já McCoy Tyner, pianista no quarteto de John Coltrane, quando questionado se sabia a importância do que estavam a tocar nos anos 60, respondeu que sim. Sem isso não há coragem, há só virtuosismo.


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Em Coimbra também se citaram intérpretes, porta-vozes da Nova Emoção. Ofereceram-se Bongos e fez-se uma corrida à Tom Sawyer, disseram-se coisas através das quais, nos fomos elucidando, falou-se no Renault 5, e no Power Point. Curiosamente não se ouviu uma única música e foi aí que tudo começou. Hoje posso dizer que Nova Emoção é um adjectivo tão válido como a Arte. Próprio do Neo-Emotivo é já a frase: Istaqui é muitartístcio. Bué da Arte! Para finalizar... quem ficou em casa no sábado a ver o Regresso ao Futuro 2 deve ter compreendido mais um pouquinho sobre isto.

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