Compact No Discothèque!
Imaginem que por algum motivo tinham deixado de frequentar um dos bares mais importantes da vossa cidade e quando lá regressavam (8 ou 9 meses depois) encontravam tudo na mesma ou pior. Ontém aconteceu-nos isso. O Triplex, bar/restaurante foi há cerca de 3 anos uma casa que agitou a noite do Porto com uma residência mensal de um tal de DJ Kitten. Em 2002, as obras para o Porto 2001, capital europeia da cultura impediram a ribeira de manter aquela movida que tanto caracterizava o Porto, e as pequenas ilhas que ofereciam uma programação mais ou menos interessante (como o Aniki ou o Mercedes) foram ficando isoladas no meio de ruas desabitadas. O Club Kitten veio na altura certa, e para uma malta sedenta de festa, contacto físico e de um som confortavelmente familar. Para esse movimento revivalista foram criados o maior número de definições possíveis: Synthron, Electroclash, Glitchcore, Synthpunk, Electrotrash, Futurepop, Nu Synthpop, "Who Knows What Else"... O Porto estava no mapa das cidades europeias mais animadas. Apesar da pouca oferta, havia gente que esperava um mês para uma noite de produção afincada e promiscuidade quanto bastasse. Lembro-me de algumas noites com mais de dois milhares de pessoas sem qualquer tipo de seguranças com microfones e fatos pretos. O ambiente era bom e isso bastava para evitar escaramuças entre gente tremendamente alcoolizada. Passadas duas dezenas de festas a coisa começou lentamente a entrar em decadência e o mito foi deslocado para outros espaços. As centenas de pessoas que por lá passavam nos sábados Kitten eram tentadoras para qualquer DJ. Assim houve quem soubesse aproveitar atempadamente o fenómeno da casa e arranjar festas mensais por lá. As noites Ping Pong, as Suplys, as Gigis, as Compact Discothèque e até o guitarrista do Chutos e Pontapés, passaram a tomar as rédeas da casa ao mesmo tempo que João Vieira abandonava atempadamente o Triplex. Alguns desse eventos conseguiram manter um público fiel, outros não.
Nuno Coelho, mentor da Compact Discothèque, fez no sábado passado 10 anos de DJing e presenteou-me com uma das maiores secas que passei nos últimos tempos. Às quatro da manhã as coisas estavam quase no auge com uma versão calminha do Tomorrow do Superpitcher (imagine-se). Convidou um tal de Jani que anda sempre por aí, para vir de avião de Colónia, até ao Triplex passar umas produções da sua cidade. Daquelas que toda a gente está farta, mas mesmo muito farta, de ouvir. Musicas para bater o pé, para fazer a digestão, e para ouvir de modo distraído porque não dá mesmo para ouvir atentamente aquilo que já foi dissecado vezes sem conta. O Synthron e o Techno de Colónia passaram a Musak. E nos espaços que estão abertos até às 5 não se pode passar música de elvadores. Ouviam-se as centenas de conversas no ar em vez da música que esteve baixa até passar a remistura feita por James Holden para Nathan Fake, e mesmo então, as pessoas elevaram o tom de voz...
Os trechos eram quase todos bons e o espírito Pop do Nuno é aquele que mais me agrada nas suas selecções e edições caseiras, mas haja paciência. A última vez que fui a uma Compact Discothéque passaram quase as mesmas coisas, e confesso que já não ia a uma festa destas à muito tempo. A falta de reacção do público não bastou e repetiram o The Sky Was Pink como se não soubessem uma nova ou não tivessem mais discos. Chega a ser vergonhoso para uma cidade, produtora de cultura e de música, como o Porto e quase confirma aquilo que se dizia quando o Kitten nos invadiu com a frescura de Londres: "O Triplex é um fenómeno de curta duração sem grandes possibilidades de evolução!". Eu não me adimiro que venham a Pulsar e a Sonic distribuir panfletos para o Porto a dar a boa nova: O Acid está de volta!
Claro que está! Assim como muitas outras especificidades da House, do Electro e da Fusão do Hancock, e mesmo as evoluções do Break Beat nos estão a trazer frescura.
Não é preciso fazerem-me um desenho, eu é que o faço para vocês!
: )
Só espero que amanhã, a malta do Electro-Techno passe a tarde na praia e a noite no Indústria, e compreendam que já nem eles podem com as suas próprias produções! Duvido que façam pouco de vocês, mas se não quiserem acreditar nas minhas especulações levem ovos e tomates, just in case...